Deus criou o homem porque adora histórias. (E.Wiesel)
Espalhe amor por onde quer que vá : Primeiro que tudo na sua própria casa. Dê amor aos seus filhos, à sua esposa ou ao seu marido, ao vizinho do lado... Não deixe que alguém saia junto de si sem ir melhor e mais feliz. Seja a expressão viva da bondade de Deus ; bondade no seu rosto, bondade nos seus olhos, bondade no sorriso, bondade na sua saudação calorosa.
(Madre Tereza)


domingo, 30 de outubro de 2011

Por causa de um troco

Um rapaz desconhecido apresentou-se no nosso apartamento, para instalar um novo aparelho purificador de água. Era uma novidade. Mais para ajudá-lo do que por necessidade aceitei o serviço.
Na hora de acertar contas, dei-lhe uma nota, para a qual ele não tinha troco. Ofereceu-se para ir trocar a nota em alguma casa de comércio. Fiz um gesto de hesitação. Ele quis entregar o seu relógio como garantia de que voltaria com o troco. Não aceitei o relógio. Disfarcei a desconfiança que tivera, e disse para ele ir tentar arranjar o troco.
Os minutos iam passando e o rapaz não voltava. Esperei mais duas horas, mas ninguém tocava a campaínha. Minha mulher repetia em tom enervante :
- "Eu não te disse ? Logo que o rapaz entrou eu desconfiei dele. Mas tu és muito ingénuo, acreditas em toda a gente; Aprende de uma vez por todas!".
Três dias depois, uma menina toca à campaínha :
- Foi aqui que esteve um rapaz a fim de instalar um aparelho de água ?
-Sim foi aqui !- respondi.
-Era meu irmão. Ao sair daqui naquele dia, foi atropelado por um carro, e levado inconsciente para o hospital. Há poucos momentos voltou a si. A primeira coisa que falou, foi isto: que eu viesse trazer um dinheiro ao senhor. Aqui está. Agradeci, bastante confuso e envergonhado.
Em seguida fui com a menina para o hospital. O rapaz tinha acabado de falecer
(oração da vida)
Senhor, aumenta a nossa fé. Fortalece a nossa esperança.
Aumenta também a nossa confiança nos outros. Nem toda a gente é desonesta, como nós pensamos.
Que venha quanto antes o teu reino de amor justiça e honestidade
AMÉN

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

É preciso matar a aranha

Uma senhora rica tinha uma criada que lhe fazia o comer, lavava a roupa e cozinhava.
Um dia a senhora encontrou uma teia de aranha junto a uma porta e ralhou muito com a empregada. A rapariga aflita logo pediu desculpa e foi pressurosa tirar a teia. Passados poucos dias lá estava outra teia no mesmo lugar. - Isabel, Isabel !- exclamou a D. Maria do Carmo. Então eu não te disse que tirasses aquela teia de aranha ?
- Minha senhora, eu tirei-a.
- Como a tiraste, se ainda lá está !
E ameaçou-a, dizendo-lhe que a mandava embora se ela deixasse criar mais teias de aranha dentro de casa.
A rapariga foi imediatamente tirá-la, mas daí a dias lá estava outra.
Quando a D. Maria do carmo a descobriu, decidiu arrumar o caso de vez :
- Isabel, não ficas nesta casa nem mais um dia!.
A jovem chorava : - Minha senhora, posso jurar-lhe : tirei a teia de aranha nas três vezes que a senhora mandou. Não é a mesma teia de aranha; é outra !
- Mas tu não mataste a aranha ?
- Não, minha senhora ; como só me mandou tirar a teia !...

Igualmente muitas pessoas não são capazes de se emendar deste e daquele defeito, por muito que rezem e se confessem, pois não matam a raíz do mal.
Ficam-se pelo tirar da teia, deixando lá a aranha.
Os pecados capitais são essa aranha que é preciso matar. A soberba, a avareza, a luxúria, a ira, a gula, a inveja e a preguiça são a raíz de todos os outros pecados. É preciso destruir essa raíz e não se ficar apenas pela folhagem ou pelos ramos. Doutro modo estão sempre a aparecer os frutos dessa má árvore.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sonhar... por quê ?

Ele era um jovem que morava no Centro Oeste dos Estados Unidos. Por ser filho de um domador de cavalos, tinha uma vida quase nómada, mas desejava estudar. Perseguia o ideal da cultura. Dormia nas estrebarias, trabalhava os animais fogosos e, nos intervalos, à noite, ele procurava a escola para iluminar a sua inteligência.



Numa dessas escolas, certa vez, o professor pediu à classe que cada aluno relatasse o seu sonho.
O que desejariam para as suas vidas. O jovem, cheio de entusiasmo, escreveu sete páginas. Desejava, no futuro, possuir uma área de 80 hectares e morar numa enorme casa de 400 metros quadrados. Desejava ter uma família muito bem constituída. Estava tão entusiasmado, que não só descreveu, mas desenhou mesmo a casa que ele sonhava, as cocheiras, os curris, o pomar. Tudo nos mínimos detalhes. Quando entregou o seu trabalho, ficou esperando, ansioso, as palavras de elogio do seu mestre.
Contudo, três dias depois, o trabalho foi-lhe devolvido com uma nota mediocre. Depois da aula, o professor chamou-o e disse-lhe : o teu sonho é absurdo. Tu és filho de um domador de cavalos. Tu vais ser um simples domador de cavalos. Escreve sobre um sonho que se possa tornar realidade e eu dou-te uma nota melhor.
O jovem foi para casa muito triste e contou ao pai o que tinha acontecido. Depois de o ouvir com calma, o pai respondeu-lhe : - O sonho é teu, meu filho, faz o que quizeres... Essa decisão é tua :
persistires nesse sonho ou procurar outro.
O jovem meditou e, no dia seguinte, entregou a mesma página ao professor. Disse-lhe que ficaria com a nota ruim mas não abandonaria o seu sonho.
Esta história foi contada para várias crianças pelo dono de um rancho de 80 hectares, uma enorme casa de 400 metros quadrados e uma familia muito bem constituida, próximo de um colégio famoso dos Estados Unidos.
Quando terminou a história, o dono do rancho revelou ser ele o jovem que teve a nota ruim, mas que não desistiu do seu sonho.
E o mais incrível é que depois de 30 anos o velho professor o tem visitado com os seus alunos.
Um dia confessou-lhe : - Fico feliz por o seu sonho ter sobrevivido à minha inveja. Naquela época eu era um atormentado. Tinha inveja das pessoas sonhadoras. Se calhar destruí muitas vidas, roubando o sonho de muitos jovens idealistas. Mas, graças a Deus, não consegui destruir o seu sonho... Sonhar é da natureza humana. Tudo o que existe no mundo, um dia foi elaborado, pensado e meditado por alguém. Antes de ser concretizado em cimento, mármore, madeira ou papel... foi um sonho !!!
www.eJesus.com.br


Também Jesus tem um sonho. Esse sonho é transformar o mundo de modo que as relações entre as pessoas sejam expressão do próprio Reino de Deus : partilha de bens materiais, pureza de coração, prática da justiça, compaixão e misericórdia, procura da paz, comunhão com Deus. É este objetivo que ele persegue na sua vida, mesmo que vá modificando as estratégias para o conseguir. Com esse sonho Jesus convenceu-se de que era capaz de mudar o mundo ! Não sozinho evidentemente ! Mas a começar por ele ! De facto, se tem esse projeto para si, é porque estava convencido de que era possível. O que parece uma loucura... E todavia ele mudou o mundo ! E não conseguiu isso só porque era Deus ; muitos outros, para o bem ou para o mal, também mudaram o mundo : recordemos por exemplo Francisco de Assis ou Ghandi .

"Ao ver a multidão, Jesus subiu a um monte. Depois de se ter sentado, os discíplos aproximaram-se dele. Então tomou a palavra e começou a ensiná-los, dizendo :
Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. ........." Ler (Mt. 5, 1-12)

Jesus guiado por este sonho das bem aventuranças, não fica na expetativa, mas começa ele próprio a fazer...
Nós cristãos que somos uma minoria precisamos de encarnar em nós o espírito e o sonho, a nova conceção e o novo objetivo, das bem aventuranças.
Precisamos também de sonhar que este mundo das bem aventuranças é possível, já agora tanto quanto nós nos pusermos a fazê-lo.
Para Jesus foi absolutamente verdade aquilo que diz o poeta : " o sonho comanda a vida ".
E para nós ? Quem comanda a nossa vida ?

domingo, 9 de outubro de 2011

Um sorriso ao amanhecer

Eis aqui um testemunho impressionante de Raul Follereau.
Estava numa leprosaria numa ilha do pacífico.Tudo parecia um horrível pesadelo : cadáveres ambulantes, raiva, desespero, chagas e mutilações horríveis.
Todavia, no meio de tão grande tragédia, um velho doente conservava os olhos muito claros e sorridentes. Tinha o corpo coberto de chagas, como os outros, mas mostrava-se agarrado à vida, com ilusão e esperança, e tratava os outros com delicadeza.
Cheio de curiosidade diante daquele milagre de vida no inferno da leprosaria, Follereau pôs-se à procura de uma explicação : "o que é que está a dar tanta força e vontade de viver a este velho, completamente minado pela doença ?".
Andou a espiá-lo de longe. E acabou por descobrir que todos os dias, ao amanhecer, o homem se arrastava para a cerca da leprosaria, sempre no mesmo sítio. Sentava-se e ficava à espera. Até que, do outro lado da cerca, aparecia uma senhora, também idosa, com o rosto de finas rugas e os olhos cheios de doçura. A mulher não falava. A mulher não dizia uma palavra. Dava-lhe só uma mensagem silenciosa e discreta : um sorriso.
Mas o rosto do homem iluminava-se e respondia com outro sorriso. O diálogo sem palavras - colóquio mudo - durava só uns instantes ; logo o velho se levantava e regressava contente ao pavilhão dos doentes.
Assim um dia e outro dia, todas as manhãs. Uma espécie de comunhão diária. O leproso, alimentado e fortalecido com aquele sorriso, podia suportar outro dia de dor solitária e aguentar até novo encontro com o rosto sorridente daquela mulher.
Quando Follereau lhe perguntou quem era ela, ele respondeu :
"- É a minha mulher. " E, depois de um silêncio, continuou : "sabe, antes de eu vir para aqui, ela tratava-me em segredo com todos os remédios que encontrava. Um curandeiro tinha-lhe dado uma pomada. Ela todos os dias me cobria toda a cara com a pomada, exceto um pequeno espaço, o suficiente para colocar os seus lábios e dar-me um beijo... Mas tudo foi inútil. Então descobriram-me e trouxeram-me para aqui. Ela seguiu-me, mas não a deixaram entrar. Mas, quando cada manhã a volto a ver, sinto-me vivo ; e só para ela me dá gosto continuar a viver".
(Bruno Ferrero-Histórias para acortar el camino)

A história deste leproso, uma história real testemunhada por Raul Follereau deveria mexer-nos cá por dentro. Por todo o lado vemos situações idênticas, encontramos pobres de carinho tanto entre os pobres materiais como entre os ricos. Pessoas a quem, por isto ou aquilo, faltam sinais de afeto sincero.
Para compreendermos e percebermos isto, o antigo bispo de Coimbra D. Albino Cleto costuma contar um caso exemplificativo : um pároco de uma cidade resolve fazer uma ceia de Natal, não para quem não tem dinheiro, mas a pagar. E para quem ? Para quem não tem mais ninguém com quem vá passar a noite de Natal. O salão, diz D. Albino Cleto, encheu-se !! É isso.
Também temos outro exemplo : os idosos que recebem o apoio domiciliário que dizem eles ? : "ah ! é bom ; mas era melhor se pudessem ficar um bocadito mais a conversar connosco !" Fazia toda a diferença!
Como temos visto as partilhas " de carinho" entre a nossa comunidade ? Será que houve partilhas "de carinho"pelos mais pobres ?
Em que podemos melhorar a este nível as nossas partilhas "de carinho"?

Oração
Pai amorosíssimo,
Tu que nos criaste à tua imagem e semelhança,
continua hoje a purificar em nós essa transparência do teu amor,
de modo que nós amemos realmente as pessoas
com o mesmo amor terno e quente,
que não se limita a dar-lhes bens,
mas também sorrisos de acolhimento e gestos de ternura
que transforma a vida numa festa,
mesmo nos seus momentos mais negros.
AMÉN

domingo, 2 de outubro de 2011

Uma mulher com papel na mão



Sábado de manhã. Dez horas. Uma chuva miudinha disfarça o frio dos fins de novembro.
Toca a campaínha. Atendo. Uma mulher com uma garota pela mão (três anos ?) mostra-me um papel e diz-me : "por favor, preciso de dinheiro para aviar esta receita médica".
Não precisei de olhar para o papel. Eu sabia que esse é um modo costumeiro de pedinchar de porta em porta. Para a despachar, dei-lhe uma moeda de um euro, fechei a porta e esqueci completamente o caso.
Onze e trinta. Da janela do meu quarto vejo na rua a mesma mulher. Traz mais outro garoto com ela (cinco anos ?).
Talvez tenha ido pedir dinheiro pelo outro lado da rua. Mas a mulher traz na mão, isso traz com certeza, um saco de farmácia !
Será que falara verdade e tinha ido mesmo à farmácia ?!
Nunca o soube. E tinha sido tão fácil : bastava ver o papel da receita que ela me punha à frente dos olhos.
E, sendo verdade, teria ido com ela à farmácia a uns 800 metros.

Vale a pena ler no evangelho a parábola do Samaritano, e ver como o aproximar-se das pessoas é fundamental. Conhecer os problemas humanos de cada comunidade, (nem que sejam apenas" dois ou três casos"), a partir das suas pobrezas sociais mais marcantes : alcoolismo, violência doméstica, migrações, droga, mães na adolescência, aborto, roubo, pessoas isoladas, idosos sem visitas, doentes que gastam imenso dinheiro para serem consultados ou para medicamentos, pessoas a viverem em casas degradadas etc.
o "aproximar-se das pessoas" é um dos momentos para se fazer caridade; como vimos no texto acima "uma mulher com um papel na mão", dar dinheiro nem sempre é caridade; até pode ser ir contra a caridade, como nessa história, em que o objetivo da "esmola" era afastar o mais rapidamente possível aquela mulher!
Conhecemos bem a nossa comunidade? Por exemplo sabemos quantas pessoas na nossa paróquia beneficiam do subsídio de reinserção social? Sabemos quantos estrangeiros vivem na nossa paróquia? E se são casados, se o patrão lhes paga, se precisam de alguma ajuda nossa ?
Afinal quem são os pobres da nossa comunidade ? (os mal amados) da nossa comunidade ?
A resposta que lhes damos está a ser eficaz ? Se não está o que devemos melhorar ?
Oração
Abre os nossos olhos Senhor.
Como o cego à beira do caminho te pediu um dia,
assim hoje te pedimos Senhor:
abre os nossos olhos!
Para vermos o que se revela e o que se esconde,
para vermos a pobreza manifesta,
e aquela que se envergonha,
para vermos, corajosamente, o outro lado das coisas:
para vermos quanta riqueza há entre os pobres
e quanta pobreza mora em cada rico.
Para vermos a bondade que habita o coração do homem,
e quantos gestos bons brotam à nossa volta, na nossa comunidade,
praticados por tantas pessoas e instituições.
E para vermos também aquilo que não nos agrada,
que nos fere a sensibilidade,
aquilo que não queremos ver
porque já sabemos que depois não conseguimos
dormir descansados.