Era uma vez um fazendeiro que tinha 4
filhos, 3 filhos e uma filha.
Gostava muito dos seus três filhos,
mas não da sua filha que era a mais nova.
Ele não gostava dela porque achava que
os homens tinham que ser homens varões, que dariam ordens e seriam
patrões. A sua filha como era mulher jamais seria patroa.
A filha escondia-se com vergonha de ter
nascido mulher, por isso passava muito tempo sozinha chorando de
tristeza.
O pai nunca se importava com ela e
considerava-a como se ela não existisse. Nunca recebia um beijo, um
afecto, um carinho do pai.
Com a alma ferida de ter sido tão
humilhada pelo pai a miúda decidiu ir-se embora.
O pai claro que não se importou. Ela
foi-se embora mas sabia que tinha três filhos para o ajudar.
Passaram-se meses, anos e nunca a sua
filha deu notícias... nunca mais voltou.
O tempo foi passando e a vida começou
a mudar naquela fazenda. Os filhos não eram bem o que ele esperava.
Enquanto os bois iam morrendo de doença
na sua fazenda, ele ia perdendo o seu dinheiro. Os seus filhos já
não ajudavam o pai, iam gozando a vida em farras e liberdade com
outros amigos. Deixaram de trabalhar na fazenda e iam gastando todo o
dinheiro que tinham.
Com as más companhias surgiram roubos,
crimes, de toda a ordem e droga, muita droga.
Apanhados, foram parar à cadeia. O pai
ainda com algum dinheiro pagava a bons advogados para os tirar da
cadeia.
Cada vez mais só e endividado o velho
ficou esquecido por toda a gente.
Ao ver-se sem dinheiro teve de vender a
fazenda. E para não sair de lá, ficou a trabalhar como empregado na
sua própria fazenda.
Aquele império que ele tinha
construído não passa agora dum sonho perdido.
Um certo dia, deitado debaixo de uma
árvore ao contemplar tudo o que tinha construído foi chamado ao
escritório para ser despedido e assinar o papel de demissão. Tinha
que ser, mas ele queria que quando morresse ser enterrado na fazenda
que outrora fora sua..
A secretária era agora a dona da
quinta. Mas ele quando soube que era uma mulher não queria assinar.
Pois considerava uma humilhação ser despedido por uma mulher.
- Prefiro ir para a estrada! Ser um sem
abrigo!
Sentia-se um velho muito desamparado e
humilhado, quando assinou a papelada.
- Pode-se ir embora!...
Sentiu-se naquele momento como se
estivesse num deserto.
Ao sair a chorar o velho encontrou um
garoto que lhe perguntou:
- Porque está aí parado a chorar
enquanto a minha mãe chora lá dentro?
- Eu também era assim, como a senhora... rica e fazendeira!!
Ela veio lá fora ter com ele mas ele
não a reconheceu. Era a sua filha..
- Eu não preciso do seu consolo nem do
seu perdão. A senhora é rica e fazendeira e eu sou pobre. Nada mais
me resta do que ir-me embora!.
Pega na sacola e começa a sair.
Então sem ainda a reconhecer, a sua
filha falou:
- Com desprezo e humilhação ninguém
alcança a felicidade, mas vejo que o senhor já aprendeu a lição, pois durante 30 anos viu a glória e o seu fracasso. Se o senhor não
me reconhece vou lembrá-lo!!...
- Eu também um dia fui humilhada e
desprezada pelos meus irmãos e o meu pai! Mas apesar de todas as
contrariedades, consegui triunfar na vida para mostrar a todos o meu
valor. Sim sou eu mesma! Estou aqui.
O pai finalmente reconhece a sua filha.
- Agora vejo que o senhor está a
perceber quem eu sou e a dor que estou sentindo. A vingança não é uma boa aliança
pois só vai aumentar a dor!.
E dirigindo-se para o seu pai pede-lhe:
- Pai dê-me um abraço e um beijo... que eu também um abraço e um beijo lhe quero dar!
Enquanto o abraçava foi dizendo:
- O senhor não precisa de ir-se
embora, pois tem a sua fazenda para cuidar! E continuou...
- O mundo ensinou-me a viver! Os papéis
que assinou não eram para a sua demissão, mas era a escritura da
fazenda que lhe estou devolvendo nas suas mãos. É um presente que
lhe quero dar!
O pai arrependido, escutava incrédulo..
- Não precisa de se preocupar comigo,
pois estou a morar aqui bem perto, noutra fazenda que comprei.
O seu neto também o quer abraçar!
O velho chorando como uma Madalena
arrependida abraçou a sua filha e o seu neto!
Se ele tinha ressentimento, mágoa no
pensamento, pediu perdão pelo seu passado, chorou arrependido
abraçando o neto.
Finalmente a sua vida voltou a ter
sentido.
(adaptação do conto de Marco Brasil)
Quem persiste em demonstrar ingratidão, ficará sozinho quando precisar que lhe estendam a mão